A Invisibilidade das Crianças que Nascem nos Presídios Femininos Brasileiros

A Invisibilidade das Crianças que Nascem nos Presídios Femininos Brasileiros

O Brasil possui a quarta maior população carcerária feminina do mundo. Por trás desse número, existe uma realidade ainda mais delicada e, muitas vezes, invisível: a das crianças que nascem e passam seus primeiros meses de vida dentro das celas.

Esses bebês e crianças pequenas, que não cometeram crime algum, vivem em um ambiente hostil, sem os estímulos adequados e com seus direitos fundamentais cerceados. No Instituto Recomeçar, lutamos diariamente pela reintegração de homens e mulheres egressos, e entendemos que a invisibilidade dessa questão é um obstáculo para a construção de uma sociedade mais justa e segura para todos.

O Contexto da Maternidade no Sistema Prisional Brasileiro

A entrada de uma mulher no sistema carcerário impacta não só a sua vida, mas a de toda a sua família. Quando essa mulher é mãe, ou está grávida, o desafio se torna gigantesco.

Leia também: Egressos do sistema prisional: Entenda quem são

Os Números por Trás das Grades

Embora os dados exatos variem e sejam difíceis de rastrear, centenas de crianças nascem anualmente no sistema prisional brasileiro. Elas chegam ao mundo em um ambiente que deveria ser de exceção, mas que, na prática, é a única realidade que conhecem por um período crítico de seu desenvolvimento.

A falta de estruturas adequadas, como creches e berçários, e o contato limitado com o mundo externo, marcam a primeira fase da vida desses pequenos, tornando o combate à reincidência carcerária ainda mais urgente, pois a desestruturação familiar é um fator de risco.

O Ambiente Prisional e o Desenvolvimento Infantil

É um consenso entre especialistas: o ambiente prisional não é o local ideal para o desenvolvimento infantil. Bebês e crianças pequenas precisam de rotinas, afeto, estímulos sensoriais positivos e segurança.

Em contrapartida, o presídio oferece:

  • Estímulos Negativos: Barulhos altos, estresse e tensão constantes.
  • Limitação de Espaço: Restrição de movimento e brincadeiras essenciais.
  • Contágio Social: A convivência com um universo de regras e violências que não são próprias da infância.

Esses fatores podem gerar consequências graves no desenvolvimento cognitivo, emocional e social da criança.

O Que Diz a Lei: Direitos e Limites de Permanência

A Invisibilidade das Crianças que Nascem nos Presídios Femininos Brasileiros

A legislação brasileira reconhece a situação de vulnerabilidade dessas crianças, mas o seu cumprimento na prática ainda é um desafio.

O Período de Aleitamento e Convivência

A Lei de Execução Penal (LEP), no seu Artigo 83, estabelece que as penitenciárias femininas devem ter setor de creche para abrigar crianças de 0 a 6 meses de idade, garantindo o aleitamento materno.

Na maioria dos casos, a criança pode permanecer com a mãe por, no máximo, seis meses. Após esse período, a lei prioriza a saída da criança, que deve ser entregue à família extensa (pai, avós, tios) ou, na ausência de responsáveis, encaminhada para abrigos e adoção. O objetivo é evitar que o ambiente prisional comprometa seu desenvolvimento.

A Importância do Marco Legal da Primeira Infância

A legislação brasileira, especialmente após o Marco Legal da Primeira Infância, reforça o direito à convivência familiar e comunitária para a criança, o que muitas vezes justifica a separação após os seis meses. O desafio é garantir que essa separação seja acompanhada de políticas de apoio para a mãe e para o recém-nascido no mundo externo.

O Dilema da Separação

A separação é um momento de extrema dor e vulnerabilidade para a mãe e a criança. Enquanto a criança é levada para um ambiente mais adequado, a mãe permanece na prisão, muitas vezes com o sentimento de luto e impotência. É nesse momento que o apoio psicológico e a perspectiva de um futuro de reintegração se tornam cruciais para manter a saúde mental e o compromisso com a transformação.

As Cicatrizes Ocultas: O Impacto da Invisibilidade

A invisibilidade dessas crianças tem um custo social altíssimo. Quando não olhamos para a situação, deixamos de agir em um ponto estratégico para a segurança e justiça social.

Consequências Psicossociais para a Criança

A transição abrupta do ambiente prisional para o externo, somada ao estigma social de ter a mãe presa, pode gerar:

  • Dificuldade de Vínculo: Problemas na formação do apego seguro.
  • Estigma Social: Preconceito por parte de terceiros, afetando a escola e as relações sociais.
  • Vulnerabilidade: Exposição a novos riscos sociais.

O Desafio da Maternidade à Distância

Após a separação, manter o vínculo com a mãe através de visitas e contato é fundamental. No entanto, as dificuldades de locomoção da família, os custos das viagens e as regras rígidas do sistema dificultam essa manutenção, aprofundando a sensação de abandono para ambos.

Recomeçar é Preciso: O Caminho da Reinclusão e Apoio

Para o Instituto Recomeçar, acreditamos que a solução para a invisibilidade passa pela educação profissional e cidadã da mãe. Somente empoderando o egresso do sistema carcerário podemos garantir que essa mulher terá condições de reconstruir sua vida e lutar pela reconquista do convívio familiar.

O Papel da Sociedade Civil

Nossa missão é fortalecer e desenvolver egressos, contribuindo diretamente para a diminuição da reincidência. Ao oferecer qualificação profissional e apoio na reintegração social, abrimos portas para o mercado de trabalho, permitindo que a mãe consiga um emprego e crie um lar estável para o seu filho quando sua pena for cumprida. #COMPROMETIMENTO #JUNTOSSOMOSMAISFORTES

Qualificação Profissional e Cidadã

Por meio de nosso trabalho, mulheres que foram mães no cárcere podem estruturar um novo caminho social e profissional. O sucesso a partir de suas escolhas não é apenas uma meta pessoal, mas o pilar para que possam, de fato, exercer a maternidade plena e responsável.

Influenciando Políticas Públicas

Nossa visão é Ser referência no trabalho com egressos do sistema carcerário e influenciar políticas públicas. Buscamos garantir que existam estruturas adequadas para o pré-natal, o parto e a primeira infância, além de sistemas de apoio eficientes para a transição da criança e a reintegração da mãe. #INOVAÇÃO #INCLUSÃO

Conclusão: Tirando o Olhar da Invisibilidade

Olhar para as crianças que nascem nos presídios brasileiros é mais do que um ato de empatia: é um investimento na segurança pública e na justiça social. O ciclo da reincidência só será quebrado quando oferecermos oportunidades reais de recomeço para as mães, garantindo que seus filhos tenham um futuro longe das grades.

Apoie o Instituto Recomeçar! Juntos, podemos transformar a invisibilidade em esperança e recomeço.

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